Eu queria tirar de mim todas essas fotografias tatuadas, esses flashs de lembrança, sim: flashs, porque sempre que tento lembrar de algo é só o que me vem, flashs, como fotografias em movimento, e eu guardo elas com tanto cuidado porque eu tenho medo, de passar tanto tempo, mas tanto tempo, que eu não possa mais distinguir lembrança de sonho, memória de invenção, fotografia de imaginação - esse teu sorriso de canto de boca, esse teu olhar que não sabe mentir, essa tua mania de apertar um pouquinho um olho enquanto pensa, aquela tua expressão debochada enquanto finge concentração, o cheiro que tem o teu cabelo, o jeito que meu corpo se molda no teu abraço, o teu jeito certo de segurar as minhas costas exatamente aonde eu gosto, o teu nariz no meu nariz, o teu olho no meu olho, o meu beijo no teu beijo, o teu beijo no meu ombro, o meu beijo no teu braço, a tua mão na minha mão, a minha mão na tua nuca, o teu me puxar de volta depois de tantos boas noites, o teu jeito de falar, de pouco falar, de me fazer rir, de rir de mim..

Renata Mulinelli.

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